quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Encontro de lama e concreto




Por Nei Cirqueira



            Um aeroporto. Um vôo para Recife. Uma música para entrar no clima: Leão do Norte (Lenine). A expectativa do encontro. E teatro é encontro. Teatro de grupo: encontro de pessoas num coletivo. Encontro entre dois grupos. Encontro com um terceiro representante de um outro grupo: Lubi – Teatro XIX (SP). E assim vai nascendo uma interação presencial para quebrar a rotina das interações virtuais. E ao propor uma oficina onde poderíamos investigar a arquitetura do corpo do outro, Lubi proporciona a todos uma quebra de barreiras. Surge a percepção de que alguns procedimentos são semelhantes, entretanto, possuem nomenclaturas outras. Em outro momento experimentar o encontro com a rua. Antes, porém, é necessário trocar pequenos ‘presentes-provocações’ entre os dois grupos para estimular a relação de descoberta da cidade. Descoberta essa que se inicia através da descoberta do outro. Do outro indivíduo. Do outro coletivo. E na caminhada se deparar com cenários fotografados e enviados para a criação. Necessidade de descobrir um pouco mais daquele olhar guardado. Contudo é necessário seguir para poder esconder o ‘presente-provocação’ para que o outro encontre e nessa busca surgem novas relações-ações-performações com a cidade e suas pessoas que se intrigam com nossas investigações.

            E no meio disso, a ansiedade para ver como o olhar desse grupo se apropriou de nossos olhares guardados nas imagens enviadas.  E o anseio-receio de apresentar nossas criações que também surgiram dos guardados registrados pelos magiluths. Olhares brilhantes que se cruzam cheios de expectativas. E ainda outros olhares que se cruzam, constrangidos, quando algumas questões de organização e compromisso surgem nos dois grupos comprometendo o andamento das atividades. Espelhamentos, reconhecimentos, desafios semelhantes. Primeiras trocas de experiências sobre como administrar tais questões. Conversas que apontam o bom e o ruim das diferentes personalidades.

            E a curiosidade sobre o quê essas personalidades reunidas num coletivo criaram a partir de nossas imagens acaba gerando outro anseio: saber como chegaram naquele material cênico. E a resposta apresentada por meio de demonstrações práticas faz surgir no Concreto o desejo de experimentar a metodologia desses recifenses. Esse desejo segue com o Concreto, o Magiluth e o Lubi para Brasília.

            Novos debates, novas percepções, novas trocas sobre modos de criação e de gestão. Talvez com um pouco mais de intimidade. Diminuem-se os filtros. Aproximam-se histórias sobre o nascimento dos grupos. Para um, poucas experiências com editais. Para o outro, escassas apresentações em festivais Brasil afora. Entre os dois, começa ser possível perceber, timidamente, como as demonstrações de materiais cênicos se contaminam. Uma zona de contágio permeada pelas considerações das platéias de Recife e de Brasília. Novas inquietações que nos colocam em contato com desafios ainda não identificados ou pouco enfrentados: superar recorrências nas qualidades expressivas dos atores, nas cores e objetos presentes na direção de arte, no discurso que está sendo levantado.

            E no meio de tanta interação, a necessidade de, no último dia do encontro presencial, comer uma pizza para ajudar a digerir a quantidade de descobertas. Encontro que possibilitou olhar nos olhos e compartilhar guardados que só podem ser divididos diante da presença do outro.

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