terça-feira, 30 de agosto de 2011

Imagem número 6 Teatro do Concreto



Desvio para o Amarelo

Fragmentos coletados na sala de ensaio - Concreto - ExPerimenta metodologia do Magiluth

Segura aqui, eu vou parir.
 Vai parir o que?
Um girassol.

Semente não cresce em cimento não. Isso é só um ponto.
Eu queria tanto um abraço agora nesse momento.

A - Cantando: Arrasta a massa, Arrasta a massa
B –(olhando para cima) Vai  encher, vai encher!
A - De que?
B- De babaca aqui me olhando.

Tem dias que não tenho disposição para ver a alegria das pessoas.
Alguém consegue levantar a minha cabeça? Todo mundo tá na minha cabeça e meu pescoço não consegue agüentar. Porque o mundo tá na minha cabeça. Meu corpo é todo de borracha. Cabeça gira, mão treme.

Eu tenho mania de matar passarinho amarelo
Matar pintinho, quebrar o pescoço
Matar galinha, galinha amarela

O que me move são as minhas pernas
O que me move é a minha falta
Dinheiro me move
O descartável me move
O que me move são células morrendo
O que me move é saber é saber que eu tenho alguém pra ligar
O que me move é o que eu faço
Quando eu tinha 2 anos eu entrei no forno do fogão e a tampa fechou, eu quebrei as duas pernas. Eu sempre fui curioso, enfiei um ferro na tomada e me mijei todinho.

Você podia me dá um abraço
Me chama pra sua vida
Me chama pra você
Me dá um beijo
Me dá um fogo
Me leva  daqui

Eu tinha uma cachorra amarela. Amarela como caramelo. Uma vez ela estava toda mijada e peguei ela no colo assim mesmo.

Alguém pode me levar pra longe?
Alguém pode me levar pra beira de algum mar?
Alguém pode me dar um sorriso, sem expectativa?
Alguém pode me dar uma dança?

Céu, por favor, me dá um pouco de chuva!

O que me move é meu carro
O que me move é a coragem
O que me move são meus sonhos
Eu que me movo
O que me move é sempre a perspectiva

Eu confesso que adoro dançar

Por que nós bebemos água?
Por que meu cabelo cai?
Por que o céu é azul?
Por que não aparece ninguém do outro lado?
Por que a janela está aberta?
Será que eu consigo ver?

Eu estou sentindo uma vibração, uma luz. Por todo o meu corpo. Uma energia amarela.

Eu me arrependo dessa parte de mim que não obedece e que não conversa com a outra parte.
Eu me arrependo de ter recusado o convite. Quem é que convida alguém pra ir na casa no primeiro encontro?

Amarelo como o sol. Amarelo como os ipês, amarelo como a camisa do Jhony, amarelo como meu sorriso ta ficando com tanta besteira que eu falei.


segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Resposta do Caso N°4 - Magiluth


A primeira pergunta aponta-nos respostas diretas: a busca por relações profissionais. Nossa atividade artística permite tipos de relações muitas vezes não formais e presas ao modelo do mercado. Ou seja, temos a possibilidade de sobrevida que todo ser humano gostaria. Mas ações e escolhas nos exigem atitudes extremamente profissionais além de distanciamento passional para realizar as escolhas coerentes.

O prazer se adquire nas escolhas. Impossível realizar trajetória sem escolhas e definições que agradem ao senso comum do grupo. Ruim também criarmos engodos por situações e definições. A força matriz é o próprio grupo e portanto devemos realizar tudo para o coletivo não ser abalado. Sofremos sérios desgastes em nossa trajetória, o prazer é algo que sentimos a pouco tempo, fruto de busca por um pensamento coeso e único para a força matriz.

Resposta do Caso N°3 - Magiluth


Em nossa trajetória marcada por não aprovações em editais de incentivo, desenvolvemos a seguinte regra: O custo do meu grupo é diretamente limitado pelo quanto posso custear.

Difícil valorar funções ou tentar criar tabelas orçamentárias, pois poderíamos cair nas armadilhas das utopias. Quais profissionais estarão envolvidos, qual espaço administrarei, quantos somos? Perguntas que no máximo apontam um caminho de busca. Busca por valores que garantam profissionais qualificados, estrutura favorável, e dignidade de trabalho.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Encontro de lama e concreto




Por Nei Cirqueira



            Um aeroporto. Um vôo para Recife. Uma música para entrar no clima: Leão do Norte (Lenine). A expectativa do encontro. E teatro é encontro. Teatro de grupo: encontro de pessoas num coletivo. Encontro entre dois grupos. Encontro com um terceiro representante de um outro grupo: Lubi – Teatro XIX (SP). E assim vai nascendo uma interação presencial para quebrar a rotina das interações virtuais. E ao propor uma oficina onde poderíamos investigar a arquitetura do corpo do outro, Lubi proporciona a todos uma quebra de barreiras. Surge a percepção de que alguns procedimentos são semelhantes, entretanto, possuem nomenclaturas outras. Em outro momento experimentar o encontro com a rua. Antes, porém, é necessário trocar pequenos ‘presentes-provocações’ entre os dois grupos para estimular a relação de descoberta da cidade. Descoberta essa que se inicia através da descoberta do outro. Do outro indivíduo. Do outro coletivo. E na caminhada se deparar com cenários fotografados e enviados para a criação. Necessidade de descobrir um pouco mais daquele olhar guardado. Contudo é necessário seguir para poder esconder o ‘presente-provocação’ para que o outro encontre e nessa busca surgem novas relações-ações-performações com a cidade e suas pessoas que se intrigam com nossas investigações.

            E no meio disso, a ansiedade para ver como o olhar desse grupo se apropriou de nossos olhares guardados nas imagens enviadas.  E o anseio-receio de apresentar nossas criações que também surgiram dos guardados registrados pelos magiluths. Olhares brilhantes que se cruzam cheios de expectativas. E ainda outros olhares que se cruzam, constrangidos, quando algumas questões de organização e compromisso surgem nos dois grupos comprometendo o andamento das atividades. Espelhamentos, reconhecimentos, desafios semelhantes. Primeiras trocas de experiências sobre como administrar tais questões. Conversas que apontam o bom e o ruim das diferentes personalidades.

            E a curiosidade sobre o quê essas personalidades reunidas num coletivo criaram a partir de nossas imagens acaba gerando outro anseio: saber como chegaram naquele material cênico. E a resposta apresentada por meio de demonstrações práticas faz surgir no Concreto o desejo de experimentar a metodologia desses recifenses. Esse desejo segue com o Concreto, o Magiluth e o Lubi para Brasília.

            Novos debates, novas percepções, novas trocas sobre modos de criação e de gestão. Talvez com um pouco mais de intimidade. Diminuem-se os filtros. Aproximam-se histórias sobre o nascimento dos grupos. Para um, poucas experiências com editais. Para o outro, escassas apresentações em festivais Brasil afora. Entre os dois, começa ser possível perceber, timidamente, como as demonstrações de materiais cênicos se contaminam. Uma zona de contágio permeada pelas considerações das platéias de Recife e de Brasília. Novas inquietações que nos colocam em contato com desafios ainda não identificados ou pouco enfrentados: superar recorrências nas qualidades expressivas dos atores, nas cores e objetos presentes na direção de arte, no discurso que está sendo levantado.

            E no meio de tanta interação, a necessidade de, no último dia do encontro presencial, comer uma pizza para ajudar a digerir a quantidade de descobertas. Encontro que possibilitou olhar nos olhos e compartilhar guardados que só podem ser divididos diante da presença do outro.

Um olhar que guarda interrogações


Por Nei Cirqueira



        O fim de um processo geralmente surge imbuído de confusas sensações. Parece ser difícil dimensionar conquistas e frustrações, anseios e vazios. Olhar pra trás, rever os passos dados e começar a perceber momentos que poderiam ter sido diferentes. Perceber as situações em que o fôlego faltou, em que o suor respingou e manchou a roupa, molhou o chão. Encarar as dificuldades para se chegar a uma cena que motivasse e agradasse a todos. Mas o que me agrada nem sempre interessa o meu parceiro. Encontros e desencontros que fazem nascer inúmeras questões: Como desenvolver um jogo de motivação para a criação? Como despertar o meu olhar para a cidade? E como fazer o meu olhar guardar algo para você? Como perceber poesia na correria frenética que faz a cidade nascer todos os dias? Será que há o que se ver? Será que é possível se ver na cidade? Será que existe o desejo de nascer com a cidade? E esse vazio que insiste em me paralisar? Será que é fruto da arquitetura moderna de Brasília? Como aproximar uma cidade do centro-oeste de outra do nordeste por meio de imagens? O que será que eles quiseram dizer com essas 03 fotos? Como ela me afeta? O que eu quero dizer com essa coletânea de ações? Como vou ressignificar toda a poluição visual que me chamou atenção em uma foto que mostra o caos urbano em uma praça do centro de Recife? É mesmo possível ter tantas diferenças entre as pessoas de lá e as daqui? Será que devemos experimentar um rodízio entre as funções no modo de criação que adotamos: o processo colaborativo? Devo mesmo ocupar o lugar da direção sendo eu um ator? Mas se este projeto estimula a investigação de linguagem, por que não nos lançarmos no risco de ser um ator que ocupa o papel de diretor? Por que não ser um ator EXPERinvestigando o papel de dramaturgo? Mas, espera aí: quais são as funções desses papéis? Alguém pode me dizer como criar nesses papéis? “Gente, vocês perceberam que a metodologia está diferente em comparação com o processo dirigido pelo diretor ‘oficial’ do grupo? Estão se sentindo livres para criar?” E agora, como criar a partir do trabalho dos atores? E como usar o meu olhar sobre essas criações e gerar provocações para o dramaturgo que dias atrás estava respondendo pela direção da cena anterior? O que fazer com posturas que vejo nos atores e que estão me incomodando agora que estou no papel de diretor? Ih... então foi pra isso que assumi esse papel? Pra ver o que tenho que mudar no meu comportamento enquanto ator? E na função de dramaturgo? Nossa, é tão divertido assim mesmo? E essa vontade louca de contextualizar ações que a princípio se mostram tão fora de contexto? Ei, ator que está sendo dramaturgo na experimentação nº 03, viu como é importante registrar o que os atores e o novo diretor criaram? E então, já está afetado para criar o texto? Meu Deus, o que fazer com tantas ações? E esse sentimento de estar completamente ocupado pelas ações geradas a partir de 03 fotos que tanto me perturbam? Ué, e aquele vazio que você estava sentido? Como escrever uma dramaturgia na qual caibam tantas ações e sensações? É impressão ou aquele vazio cedeu lugar a inúmeras borboletas no estômago na hora de apresentar para o grupo a primeira proposta de texto? Como é possível fazer/experimentar tudo isso no meio de tantas outras demandas da vida de cada um de nós? Como não ser permissivo com o companheiro? Como não ser permissivo comigo mesmo? É só uma sensação ou, de fato, estamos empacados? Por que falar é fácil e fazer é tão complicado? Temos mesmo que parar a criação para discutir gestão? O que fazer com a dor dos problemas pessoais que estão abalando as estruturas do coletivo? Que sensação é essa de que estou esquecendo de algo? Não era para eu postar no blog as próximas fotos? Putz, onde eu estava com a cabeça? Não seria na organização dos pagamentos para os integrantes do grupo? Você viu que uma das atrizes está sem dinheiro para o ônibus? Não seria possível fazer dois pagamentos no mesmo mês? O que o grupo acha? Será que vai dar tempo de todos se posicionarem ainda dentro do mês? Fazer essa consulta não vai desviar nosso foco da criação? Quem ficou responsável por sistematizar a discussão do caso de gestão nº 2? Vocês podem esperar um momento para eu poder olhar nas minhas anotações? Caramba, como não vi a anotação de trazer uma música de baile para experimentar na cena que estou dirigindo? Pôxa, porque tenho que misturar tantas atividades? Por que isso? Pra quê aquilo? Por quê? Pra quê? ... ??? ....???? ..... ????? ...... ?????
E no meio de tantas indagações fica a sensação de que as imagens e experiências trocadas abriram portas que precisam ser adentradas. Portas que se abrem para que possamos nos rever, nos remexer, nos reconhecer, nos desafiar, nos desembaraçar... Portas que se abrem para desvelar o que nossos próprios olhares guardaram de nós mesmos.

o que fazer depois disso...?

o que fazer depois disso...?

“Pegar o barco andando”. Foi exatamente isso que eu fiz, ao embarcar no Itaú rumos cultural,  projeto Do Concreto ao mangue -  “aquilo que meu olhar guardou pra você”. Estava no processo de GREGORIO. Quando Giordano disse: VAMOS JOGAR? Fiquei preocupado em não conseguir jogo. Primeiro passo: ver as fotos do olhar de alguém sobre Brasília; Depois fluxograma.  Para, então, começar a “jogar”. Começo de uma loucura em minha cabeça . O que é criação coletiva? Que possição é a minha em relação ao grupo? E mais, o que ser um grupo? Achava que grupo era só reunir algumas pessoas e começar a criar “fazer peças”, recebi um tapa!
 Nesse processo (louco), de criar em cima de recortes de uma realidade, do ponto de vista de alguém que tirou uma fotografia. Muito doido. Mas, vamos “jogar" e ver onde chagamos. Discutir a cidade de Brasília? Recortar um pedaço do nosso recife para eles criarem? Descobri, ao longo do processo, que era muito mais... focamos no individuo no seu tempo/espaço? Discutimos o individuo que vive em Brasília? recife...? E que esta em todos os lugares. Focamos o ser humano em todos os seus aspectos e como ele lida com as circunstâncias que o envolvem no seu dia-a-dia.
Depois dos encontros presencias, aqui em recife e em Brasília, voltei cheio de duvidas. Duvidas sobre minha posição em relação ao grupo. Em relação ao meu trabalho quanto criador. E, imbuído do que é esse nosso fazer teatral?  Qual o limite entre o que vivemos e o que colocamos em vida na cena? Nas discussões e criações estéticas. Esse é o meu teatro?  Voltei sabendo que sem uma gestão concreta nenhum grupo se mantém. E o que fazer sabendo disso? O que eu posso fazer pra que isso aconteça de maneira presente e forte? É... o rumos Itaú me mostrou que: a nossa necessidade é de falar pra os presentes e se fazer presente.  era o começo da avalanche de questionamentos que ficam em mim, e no grupo, enquanto grupo. O que vai acontecer em são Paulo? Vejo que surgirão mais duvidas e questionamentos sobre o nosso “esta em grupo”.  O que pode ser mais uma motriz para movimentar o grupo em discussões.

Erivaldo oliveira

agradeço!

Olá Companheiros!
                Espero que estejam muito bem! Por aqui as coisas vão indo em seus fluxos naturais, obedecendo os gráficos da vida...
                Quero falar um pouco de como o movimento iniciado por nós, Concreto e Magiluth, provocou e ainda provoca desdobramentos e reflexões. Confesso que, durante nosso encontro propriamente dito eu me mantive em confusão e em confronto com vários julgamentos, tendo me encontrado apenas em posição de tecer alguns comentários comparatórios em relação aos grupos envolvidos (ainda veio o Lubi e acrescentou coisas dobre o XIX, aí minha cabeça começou a feder, risos).
                Era certo que um encontro como esse iria despertar comparações. Era a primeira instância a ser percorrida em nossos Rumos, mais risos. Mas sim, somos grupos que trabalham de formas completamente distintas apesar de compartilharmos de fontes parecidas; vocês são um grupo pequeno, nós um batalhão experimentando outras formas de organização...; por ser um grupo pequeno (?) vocês conseguem decidir mais rápido, a coesão é mais facilmente alcançada; nós carregamos nas costas processos longos, dificuldade para a síntese, heterogeneidade; nós fazemos X com o dinheiro que nos sobra; vocês fazem Y... Acredito que todos devem ter pensado em coisas parecidas, pensaram?
                O que tanto disse que estava digerindo comunica, ou senão nasce diretamente do nosso encontro enquanto indivíduos, uma vez que enquanto indivíduos todo o encontro é reverberante, né? E esta palavra, encontro, permanece latente em mim toda vez que penso nos nossos dias juntos e também nas outras muitas relações que eu como ser humano vim construindo ao longo de uma vida de 23 anos, dez meses e alguns dias... se algum dia eu achei que tinha esquecido o peso e o efeito desta palavra, acho que agora eu reencontrei para nunca mais perder.
                E só tenho a agradecer: aos seus olhares, às suas questões, às suas entrelinhas e à força que nos move por caminhos loucos, mas sempre imprescindíveis. Agradeço a vida!

Um brinde a nossa!
Alonso Bento
Teatro do Concreto

experimentando um pouco do "outro"

Saindo do Lugar
Por Alonso Bento
Teatro do Concreto

                O encontro com o Grupo Magiluth/PE possibilitou a nós, Teatro do Concreto, experimentar outros lugares no processo de criação: o tapete de improviso. Na verdade um velho-novo lugar, uma vez que já havíamos trabalhado com improviso em outros momentos de nossa trajetória, e, no entanto ainda não tínhamos trazido este elemento para o processo do Rumos. Pois bem, hora de sair novamente do lugar!
                Destinamos dois encontros para aplicar o jogo de improviso criado pelos meninos de Recife que consistia em basicamente: separar no tapete um espaço amplo para o diálogo (onde duas ou mais pessoas deveriam ocupar quando a música acabasse ou outro mecanismo detonador fosse acionado), e dois espaços para monólogos. O restante do espaço que não fora demarcado deveria ser preenchido com a presença de quem não estava jogando.
                No primeiro ensaio, antes de começarmos o jogo, fizemos uma dinâmica com as fotos enviadas pelo Magiluth a fim de acharmos em conjunto os temas das fotos como também um tema único para as imagens. Logo em seguida separamos quatro espaços: um grande para o diálogo no centro da sala, e três outros espaços para os monólogos.
                Começamos o jogo com base no tema extraído das imagens, que era a “ação coletiva”. Durante a execução dos exercícios, Francis propôs uma variação, que era inserção de outros temas, subtemas, nos espaços de monólogo. Sendo assim, improvisamos sobre ação coletiva e também sobre música, memória, piadas, ações físicas, danças...
                Tivemos momentos muito bons na sala de ensaio. Apesar de não termos praticado durante horas o jogo, pois sabemos que as primeiras coisas que surgem num tapete são descartáveis até que a exaustão venha e traga algo interessante com o cansaço e a superação. Deveríamos ter insistido no jogo, mesmo que as horas para ensaiar já tivessem passado.
                No ensaio seguinte realizamos novamente o jogo, com outras variações: somente três espaços (um para diálogo, como da outra vez; dois para monólogos); desta vez não haveria a provocação externa para acionar os improvisos (os jogadores teriam autonomia para propor as horas de intervenção).
                Mais uma vez tivemos a sensação de que o tempo que havíamos destinado ao jogo não estava sendo suficiente para dar vazão a materiais que fossem de fato preciosos numa criação a posteriori. Talvez porque já esperávamos ter uma cena quase pronta com apenas duas investidas no jogo; talvez porque o reencontro com o improviso tenha nos tocado num lugar onde já não percorríamos mais nos nossos processos (a metodologia usada nas nossas primeiras cenas apontava para a criação de workshops na maioria individuais, o que dava um trabalho enorme para o dramaturgo construir relações e desdobramentos).
                Com o jogo achamos uma possibilidade na construção das relações, pois elas já nasciam dentro do tapete; também pudemos perceber que o volume de proposição fora aumentado em comparação aos workshops elaborados feitos outrora. Uma experiência que nos tirou do lugar mais uma vez, agora só para endossar o efeito Magiluth sobre nossos olhares e fazeres concretos.


quarta-feira, 24 de agosto de 2011



Vejam a programação completa:

http://www.itaucultural.org.br/index.cfm?cd_pagina=2841&cd_materia=1666

Enfim... por Thaysa Zooby - Magiluth


Enfim.
Bem, uma vez me disseram que não é correto começar com ‘enfim’, mas depois de tantas coisas que passamos nesses seis meses, são tantas imagens, palavras e sentimentos que se misturam na minha mente quando eu penso em tudo que aconteceu, foram tantos textos, diários de bordo, fotografias, conversas e depoimentos antes deste que me dou liberdade de começar assim.
Enfim (pausa dramática) nos encontraremos uma última vez como intercambistas deste projeto, Recife e Brasília, o concreto e o mangue juntos em São Paulo.
Ao fim deste período de seis meses é natural pensar em tudo que foi vivido. E é ainda vívido em nós o Concreto. É a Gleide sentada numa cadeira de rodas, a Lisbeth chegando com as cervejas, os aquários que banhavam as fotos, Francis recitando poesia para o Feliciano...
- É o fim.
- Mas já? Acabou tão cedo.
- Já deu a hora, só não vou embora assim, sem me despedir, ainda tenho crédito no meu celular, posso te mandar um torpedo agradecendo por tudo...
- Não faz assim, segura minha mão e vamos esperar juntos pelo fim.
- E depois?
- Depois do quê?
- E depois do fim?
- Depois do fim a gente faz um brinde ao início.
- Então eu proponho um brinde àquilo que o meu olhar guardou pra você!

Thaysa Zooby.

Lembrando o processo!


Uma vez mais entramos num processo com muitas dúvidas. Desta vez, maiores ainda, pois teríamos que compartilhar fotos com outro grupo que a maioria de nós não conhecíamos, um grupo de Recife chamado M,agiluth. Fotos de lá fotos daqui... era uma boa experiência para ser experimentada. Amigos, foi muito caótico!. Toda vez que chegava m as três fotos, era um quebra-cabeça a ser montado. Como iríamos desvendar essas situações. Então, mãos á obra! Vamos trocar de funções? Como entrar nessa? Quem se arriscaria! Melhor fico no meu papel de interprete! Foi sofrido mesmo assim... As angustias vividas pelos “dramaturgos e diretores” em cada cena, eram passadas para nós também... ai que loucura! Assim não dá! Confesso que em muitos desses ensaios, já chegava com vontade de voltar, mas o trabalho pode mais nessas horas, o compromisso é maior que a vontade, mesmo que não esteja sendo feita ao 100%. E assim foi. Trabalhamos, brigamos, fizemos cenas, improvisamos, gravamos, gritamos, rimos. uffa.....então,viajamos ao encontro dos meninos Magitulh´s.

Recife me faz lembrar a minha cidade (Lima-Peru). É antiga, tem casas coloniais, tem muitos carros que fazem soar suas buzinas, tem árvores nas casas coloniais e tem pessoas, como aqui e ali....Conhecemos a sede dos meninos... nossa, olha pela janela! O que você vê! A primeira foto! Eis que estávamos no mesmo lugar de onde foi tirada ....que descoberta!...lembro de nossos olhos brilhando, parecíamos crianças achando o tesouro na brincadeira dos piratas. Para mim, foi uma linda descoberta. Como uma imagem se faz poderosa descobres sua procedência! E assim foi. Descobrimos o lugar das outras fotos e sempre a mesma impressão. Mas agora éramos nós quem as registrávamos . Foi uma bela brincadeira.

As nossas arquiteturas corporais misturavam-se com arquitetura urbana nos jogos propostos pelo Lubi.  Nós respirávamos juntos, respirávamos ares recifenses, ares quentinhos, ares de passado, ares de presente, ares de mar e ares de nós. Tudo se fundia  no momento da comunhão do encontro.

Na “caça ao tesouro” percorremos lugares escondidos, misturados entre as pessoas, passando por barracas de comida, procurando pessoas que me ensinassem a dançar frevo, passando pela ponte e pescando caranguejo. Sim, eu fiz isso!! Foram 5 dias de várias descobertas da cidade, das pessoas de lá, das costumes e sotaques.

As cenas foram apresentadas com certo receio, pois estávamos muito ansiosos por saber o que eles (o público recifense) iriam achar de nossa leitura da cidade. Que medo! Mas esse medo foi se diluindo a medida que as cenas iam passando. No final, tudo deu certo, pelo menos para nós. Bom, é tanta coisa que realmente fica na minha cabeça com essa experiência, pois foi a primeira vez que fizemos um trabalho desse tipo.

Esta é a maneira que encontro para expor as minhas impressões sobre o trabalho que foi feito neste projeto. Agradeço a meus companheiros concretos e magiluth´s por vivermos esse caos e remarmos juntos nesse mar de ações artísticas.


Lisbeth Rios-Atriz-Teatro do Concreto

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

O que ficou de tudo isso

Gleide Firmino- Teatro do Concreto


Bom, chega ao grupo com uma idéia maluca de intercâmbio com um grupo de Recife. Vamos estar juntos em um processo criativo que seria norteado por fotografias tiradas por nós e enviadas pra lá, e vice versa. Parando agora para pensar em tudo isso me vem muitas coisas a cabeça, essa forma nova de criação mexeu muito com todos nós, deu um nó em nossas cabeças, estávamos acostumados a criar de estímulos um pouco mais direcionados, fossem eles textuais ou imagéticos direcionavam de alguma forma o nosso olhar. Já com as fotografias foi diferente, primeiro por que era tudo muito subjetivo. As vezes me pegava tentando fazer o papel de vidente, tentando decifrar o que os magiluths estavam querendo dizer com aquela imagem, claro que isso era impossível e  dava um nó na minha cabeça, o jeito era pensar juntos no que aquela foto  queria dizer, e criar a partir dos estímulos que ela me trazia. Pensar desta forma nós deu mais liberdade, nos abriu milhões de possibilidades. Cada um enxergava particularidades nas fotografias quem somadas enriqueceram o nosso trabalho. E por falar em possibilidades, resolvemos nos arriscar a trocar as funções, fazer um rodízio entre dramaturgia, direção e atuação, essa troca foi caótica, mas fundamental para o crescimento do grupo em minha visão essa troca foi o detonador de todas as crises que enfrentamos durante o processo. É difícil lidar com o novo e ainda mais com tão pouco tempo para trabalhar. A pressão da falta de tempo, e também a insegurança de estar exercendo outra função dentro do trabalho nos tirou um pouco o chão, mas foi só um pouco e me trouxe alguns questionamentos. Onde será que nosso sapato aperta? Será que fazer uma troca de funções o deixa ao menos um pouco mais confortável? Não sei, de fato não sei. Mas, além dessas descobertas e questionamentos que foram trazidos a tona, a troca que aconteceu entre os dois grupos serviu de crescimento para os dois, as discussões sobre o processo e sobre a vida em grupo foram de muita valia e me trouxe certo conforto, acredito que pudemos ver que não estamos sozinhos nesse barco, as discussões de gestão e de criação, foram de grande relevância para clarear algumas dúvidas e fez com que novas surgissem, isso nos movimenta, faz com que roda não pare.  Aprendemos com a troca de experiência a encarar problemas de gestão e de convivência com mais seriedade, pois isso pode de fato minar a energia do grupo.
Quanto ao contato com público nas duas cidades para em minha opinião foi boa, estávamos receosos em como o público de Recife enxergaria nossa visão da cidade a partir das fotografias que recebemos. Foi muito gratificante o retorno delas. Já o público de Brasília não foi muito receptivo as cenas, e isso também foi bom para a gente. Acredito que receber críticas também sejam positivas. Foi onde conseguimos chegar naquele momento e chegar juntos, respeitando o trabalho e cada um se doando na medida do possível.
O que ficou de tudo isso? A poesia que os olhares guardaram para mim, descobertas, dúvidas, angútias, sorrisos, crises, pensamentos, idéias, cumplicidade uma vontade de continuar.



quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Janela de Gestão N.6 - Teatro do Concreto

O que significa ser efetivamente um integrante do Magiluth?

Janela de Gestão N.5 - Teatro do Concreto

Como o grupo Magiluth organiza sua gestão administrativa e criativa (procedimentos, métodos, divisão de funções)?

terça-feira, 9 de agosto de 2011

sobre olhar a cidade

Esse poema do Mario Quintana me lembra um pouco nosso exercício de olhar a cidade....

O MAPA
Olho o mapa da cidade
Como quem examinasse
A anatomia de um corpo...
(É nem que fosse o meu corpo!)
Sinto uma dor infinita
Das ruas de Porto Alegre
Onde jamais passarei...
Há tanta esquina esquisita,
Tanta nuança de paredes,
Há tanta moça bonita
Nas ruas que não andei
(E há uma rua encantada
Que nem em sonhos sonhei...)
Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada
Invisível, delicioso
Que faz com que o teu ar
Pareça mais um olhar,
Suave mistério amoroso,
Cidade de meu andar
(Deste já tão longo andar!)
E talvez de meu repouso...
Mario Quintana - Apontamentos de História Sobrenatural