terça-feira, 15 de março de 2011

Janela de Gestão – resposta do Magiluth para o Caso nº 1 – Concreto


Caso nº 1 – Concreto: Dentro de um mesmo coletivo há formas diferentes de pulsar. O ritmo de cada integrante em planejar, buscar soluções e realizar tarefas é diferente. Por outro lado, existe também o ritmo do Grupo e suas demandas.Sendo assim, como perceber o ritmo de cada um e construir a identidade do Grupo? Como respeitar e investir nessa diversidade para se garantir a eficiência e a eficácia do Grupo?


SOMOS UM SÓ?
Diante de todas as dificuldades de gestão enfrentadas pelo Magiluth ao longo dos sete anos de existência, a questão colocada pelo Concreto parece-nos explodir a cabeça, visto que acreditamos ter sido esta a mais constante e definidora na construção de nossa trajetória. Inúmeras discussões, divisões, reorganizações, saídas e entradas, quereres e mal quereres,  na tentativa de que o GRUPO permaneça intacto a todos os impropérios. Assim, apresentamos nosso corpo:
O PULSO AINDA PULSA?
O Magiluth surgiu dentro do campus da Universidade Federal de Pernambuco, como qualquer grupo, sem maiores pretensões, apenas com a vontade do ¨fazer¨ teatro, agregando  diferente visões e possibilidades do ¨pensar¨ teatro. Com o reconhecimento pela cena local do trabalho desenvolvido, impõe-se uma série de questões: Quem realmente somos? O que queremos com o nosso teatro? Para onde iremos? Somos um só?
E com o passar do tempo, a falsa de ideia de um bloco concreto de pessoas vai se diluindo e ampliando-se as diferenças de gostos, sensações e necessidades. Soma-se a isto a pouca idade dos integrantes (faixa média de 23 anos) aliada as descobertas de que teatro querem para suas vidas.
E o pulso? Ainda pulsa?
Daí em diante, o Grupo é colocado numa espécie de abismo. Onde se descobre que não basta só fazer teatro. Antes de tudo é necessário aprender a relacionar-se, desenvolvendo o grande exercício do ouvir, falar e calar-se quando necessário. 
E achar que minhas necessidades sempre são as mais corretas e interessantes torna-se uma armadilha mortal neste jogo da convivência.
ONDE ESTÁ MEU CORAÇÃO?
Diante dos conflitos pontuados, restávamos nos perguntar: onde está meu coração? Minhas vontades? Ainda valia a pena construir e pesquisa com este grupo? Coincidentemente, estes conflitos se deparam com outro problema: a saída da Universidade, que para muitos significa perdas no que diz respeito a pensões e auxílio familiares para sobrevivência, tornando o grupo o único trabalho oficial, mas que ao mesmo tempo não tem como responder financeiramente, pois sabíamos ser este um projeto de longo prazo.
Algo que lutamos até hoje é para fincar a ideia que o meu coração não deve estar em outro lugar a não ser no GRUPO. Diante disto, recebemos várias criticas de artistas da cidade, por nos acharem ¨fechados¨ demasiadamente.  Mas acima de tudo, queriamos desenvolver nossos projetos artístico, estético, pedagógico dentro do nosso coletivo. Ainda hoje temos sérias retenções aos atores que acham que podem ¨fazer tudo¨, estar em ¨todos os lugares¨ e que ainda acreditam que seu processo formativo não será abalado. Isto não impede os integrantes de desenvolverem projetos pontuais com outros coletivos, porém em nenhum momento o ¨projeto maior¨, o ¨nosso coração – grupo¨, poderá sofrer interferências.
E assim, muitos acabam não concordando com estes pensamentos e acabam desistindo desta longa jornada, ou por hora, são solicitados a não mais impedir a caminhada. E isto torna um novo baque: a sensação de que não somos invencíveis.
SIM! NÃO SOMOS INVENCÍVEIS
Engraçado buscarmos relações eternas numa arte tão efêmera. Quando o Magiluth inicia sua trajetória, o pensamento único e transbordante é de unidos para sempre, divisão de tudo, juntos na saúde na doença, na alegria e na tristeza. Como qualquer casamento, esta ¨relação ideal¨ acaba com a sensação de que, sim, somos seres com uma pluralidade tremenda de pensar, e que podemos sim conviver com situações extremas, tais como a saída de integrantes.
O mais interessante de constatar é que como qualquer CORPO, a perda de partes ou funções, faz desenvolver outras que tomam para si os espaços/funções outrora vazios. E a sensação única de que o GRUPO há de ser, sempre, maior dos que as pessoas permanece, pois ele representa o espírito e necessidade coletiva, da maioria. Após perdas e feridas, tudo se cura e a trajetória continua, talvez com um pouco mais de ¨dissidentes¨.
FISIOTERAPIA PARA MEUS MÚSCULOS
O Grupo-Corpo precisa andar. Para isto, as pernas desenvolvem maior desprendimento energético e de movimento. Algumas outras partes nem tanto. Quando o Grupo-Corpo necessitar se pendurar em algo, os músculos dos braços desenvolverão maior ação. E assim deve ser sempre. Devemos perceber o que fazemos com maior assiduidade: caminhar ou pendurar? E assim, estas pernas precisam de maior proteção, melhores tênis e acima de tudo, não podem desenvolver a função sozinha, precisa do apoio do quadril, tronco, braços, mesmo que sejam mínimos. Achar que todos podem, devem e realizam as mesmas funções é uma tolice.
Ah! Também é necessário entender a necessidade do cérebro. Sem ele, os movimentos tornam-se caóticos. Aceitar que algo maior deve nos direcionar é um exercício e algo típico de nossas relações diárias. Somos criados numa sociedade onde relações hierárquicas são extremamente claras, mas buscamos ao máximo um processo de relação comunista, defendendo a ideia tal quais homens-bombas. Achamos bela a ideia, mas pelo menos em nosso agrupamento não conseguimos desenvolver esta forma, talvez no futuro.
E ASSIM, SOBREVIVO
Hoje, após idas e vindas, derrotas e conquistas, percebemos que a melhor arte que podemos desenvolver é a de manter com atividade continua o GRUPO. E para isto exercitamos diariamente nossa convivência, respeitando o tempo e ritmo de cada um e também valorizando (financeiramente inclusive), o que mais estão a frente no processo. Artisticamente falando, criamos um projeto chamado Paralelo Magiluth, que possibilita que os integrantes exercitem pesquisas, não necessariamente a pesquisa principal do grupo onde todos estão inseridos, tornando possível o ¨matar a sede¨ pelas necessidades individuais. A prova disto, é o espetáculo UM TORTO, criado por apenas dois integrantes, que após reunião, demonstraram ao grupo a necessidade de pesquisar sobre determinado assunto e assim desenvolveram em dupla o projeto. A ideia foi tão bem aceita que hoje o espetáculo compõe o repertório do grupo. Ou seja, eles não precisaram se ausentar do agrupamento para desenvolver este trabalho que foi inclusive financiado pelo Grupo. Aprendemos também que é necessário leveza no tocar das situações, pois as dificuldades de ordem de sobrevivência são muitas e por vezes os atores também precisam desenvolver outros trabalhos. O importante é que o Magiluth, nosso foco, não seja ¨abalado¨ por nossas outras ações.
Porém, acreditamos não ter este assunto por encerrado, sabedores que o conflito desta ordem é constante e exigirá sempre de nós questionamentos e ponderações. Talvez ainda possa inclusive aparecer em novo post na janela de criação. Esperar para ver!

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