quinta-feira, 26 de maio de 2011

ENCONTRO PRESENCIAL - CONCRETOMAGILUTH





DEMONSTRAÇÃO DE TRABALHO - RECIFE (PE)
debatedores convidados: Luiz Felipe Botelho e Luís Augusto Reis
04 e 05 de junho no Teatro Capiba/Sesc Casa Amarela -19h30

DEMONSTRAÇÃO DE TRABALHO - BRASÍLIA (DF)
debatedores convidados: Alice Stefânia e Rodrigo Fischer
09 e 10 de junho no Espaço Cultural Renato Russo - 19h30

INTERVENÇÕES CÊNICAS NO ESPAÇO URBANO
06 jun (REC) e 10 jun (DF)

ARTISTA COLABORADOR
Luiz Fernando Marques (SP)

programação gratuita

quinta-feira, 12 de maio de 2011

DIÁRIO DE BORDO N. 8 - Grupo Magiluth


Listas telefônicas. Dicionários. Fotos pessoais. Janis Joplin. Tancredo Neves. Google. Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças. Cadastro de Pessoa Física. Panteão. Som & Fúria. Hamlet. Matias da Rocha. Joana Batista. Vassourinhas. José Pedro Lira. José Pedro Lira Filho. Hugo Leonardo.

Talvez por ter sido tão complicado significarmos o que as fotos da terceira janela de criação nos causaram, mais do que nas outras demonstrações, dessa vez precisávamos nos cercar de referências que nos ajudassem a refletir, a sentir, ou mesmo que falassem por nós quando não sabíamos como falar.
Tentávamos entender o que nos diziam aquelas fotos, quem eram aquelas pessoas para nós, mas as respostas não chegavam com coesão. A partir desses questionamentos, depois de algum esforço, unificamos as fotos em torno de um “tema”: anônimos. Não no sentido literal da palavra “de que não se conhece o nome”, mas ampliando seu significado buscamos, na lista telefônica, várias pessoas que nos deixaram de ser anônimas (sabíamos seus nomes e telefones), mas continuavam desconhecidas.
Nem sempre deixar de ser anônimo quer dizer ser alguém. Quem foi Tancredo Neves? E quantas pessoas já conhecemos e também já esquecemos?
Isso nos trouxe para o outro aspecto que pesquisamos nessa demonstração: o valor do registro. Quais coisas você de fato se lembra e quais apenas acha que se lembra por ter visto uma foto ou escutado uma história?
É realmente necessário nos preocuparmos em sermos lembrados quando não mais existirmos? Tais quais fantasmas de reis dinamarqueses ou nossos viadutos memoriais.
Recentemente li uma citação de Valdemar de Oliveira (pena não ter lido antes) que dizia assim:
Sombras e sombras, cada vez mais esgarçadas na distância. Em vindo outra geração, nem a bondade as salvará do esquecimento total. Vivem ainda um pouco porque vivem os que com elas viveram. Quando estes desaparecerem, cairão em sono profundo, abismadas, definitivamente, na eternidade.

Vários nomes se aglomeram nos livros escolares, nas enciclopédias, nos periódicos, nos obituários e, para seus antigos donos, isso não faz diferença alguma.
Quem tem o poder de determinar o que é importante recordar ou não?

Em sendo uma demanda de poder, não há como esquecer certa frase de certo príncipe em certo castelo na hora certa de sua morte: o resto é silêncio.
É silêncio e o medo dele.
Eu, num ato de bravura, recorro ao que pode mais:
 - Tem piedade, Senhor, e me abençoa, silencia minha memória com Alzheimer.
Talvez assim eu consiga esquecer o medo de ser esquecida.
Thaysa Zooby.

domingo, 8 de maio de 2011

Demonstração N° 3 - Grupo Magiluth



Demonstração N° 3 (apresentação + debate)

Teatro Joaquim Cardozo

10 de Maio de 2011

Às 19:30

Entrada Gratuita

sexta-feira, 6 de maio de 2011

DIÁRIO DE BORDO N.7 - Grupo Magiluth



Foi com muito prazer que na última quarta-feira (27/Abr) participamos do The Pulp Fiction Project, um evento coordenado por Paulo Michellotto e Pollyana Monteiro. No teatrinho da UFPE apresentamos o jogo que temos experimentado para a construção da dramaturgia. Jogá-lo dessa vez foi singular, a primeira vez que abrimos o nosso processo de criação para outros nos observarem e jogarem conosco. Deu uma ansiedade que muitas vezes na segurança da sala fechada e do ensaio fica esquecida, isso aquece o coração e esfria o estômago já que as situações que podem acontecer com pessoas novas são completamente inesperadas, assim como suas reações às nossas proposições de cenas. Renovou nosso espírito criativo e nos fez repensar o que queríamos com a demonstração n.3 que virá. Reiniciamos nossa procura pela dramaturgia escondida dessa terceira cena. Estamos vasculhando novamente as fotos em busca de alguma brisa que areje nossos pensamentos, talvez a tenhamos deixado escapar no primeiro contato.

domingo, 1 de maio de 2011

Vôo JJ 3882 ou Do que é feito um processo de criação?


Devo estar há muitos mil pés de altura, não sei dizer quantos. A caminho de Fortaleza para participar de um seminário sobre teatro. São mais de 23h. Ao meu lado cinco mulheres animadas, bem humoradas, amigas e cúmplices... Quase todas são funcionárias públicas, muito felizes nas suas férias e desconstruindo os possíveis estereótipos de um funcionário público de Brasília. Aliás, nunca imaginei rir tanto numa viagem.
A mais humorada delas – possuidora de todos os atributos de uma comediante – ao me ver escrevendo pergunta se sou jornalista. Digo que sou diretor de teatro. Ela comenta sempre ouvir dizerem que “ela leva jeito pra isso”. Eu concordo e pergunto se já fez teatro. A resposta foi simples e provocou um terremoto em mim, mais ou menos assim:
“Tem coisas na vida que se deve ter muita cautela para experimentar, vai que gosta! Eu preferi não experimentar, casei, tenho 3 filhos, trabalho, estudo e sou dona de casa. Meu filho de 12 anos gosta de teatro e eu dou a maior força pra ele começar, quero assistir tudo o que ele fizer”.
Confesso que essa resposta me fez – sim -  pensar em: décimo terceiro, repouso remunerado, plano de saúde, férias remuneradas, rotina, horário, estabilidade, aposentadoria, feriados, etc, etc.
Confesso que pensei: quando foi que eu escolhi o teatro? Não tive cautela ao experimentar? Esse negócio vicia, como droga ou religião.
No momento seguinte volto ao meu tema inicial: do que é feito um processo de criação? Talvez seja de um conjunto sucessivo de escolhas! Você experimenta algo e - “vai que gosta” – e aquilo fica. O que regula esse “gostar” em cada processo? O que de fato pesa na hora de escolher? Quando não nos abrimos a experimentar, nos privamos de um risco, de uma descoberta?
A passageira da poltrona 14C preferiu não experimentar. O que não descobriu? O que deixou de viver? O que eu não viverei tendo feito a minha escolha? Quando é que eu recuso o risco, tendo escolhido caminho já tão arriscado?
Então seria isso: um processo de criação é um caminho que se desenha a cada SIM e a cada NÃO?
Olhando para o lado, outra pergunta me interrompe: como conseguir manter certa dose de prazer e envolvimento na(s) escolha(s) realizadas? Quantas vezes na sala de ensaio sou aquele que diz Não? As vezes se cansa do risco de experimentar ou ele já virou hábito comum que já não gera prazer? (meu Deus, como essa mulher é alegre!).
Lembro-me de uma frase da Tiche Vianna “o quanto sou capaz de produzir surpresa pra mim e para os outros”, passageiros do processo?
Escala em Teresina. Hora de abastecer o avião. Que droga, não consigo dormir!
Voltando aos estereótipos (indo pelo senso comum mesmo), fico pensando quantas vezes sou “dona de casa” e “funcionário público” na sala de ensaio ou quantas vezes Ela (aquela passageira) é “artista” com a sua família ou lidando com as burocracias da esplanada dos ministérios?
Bem, chega de turbulências mentais. O fato é que essas cinco mulheres atropelaram a minha rotina, subverteram aquele habitual “ar” meio “blasê” dos passageiros, compartilharam afeto e criaram encontro. Talvez seja um pouco disso, aquilo que buscamos nos nossos processos, no nosso teatro!
PS1: Meninas, obrigado pelo encontro e boas férias!
PS2: Em caso de despressurização da cabina, máscaras de oxigênio cairão automaticamente!
PS3: A Ana V., ao ver a cidade do alto: “Eh coisa linda, parece uma árvore de natal!”.

 Por Francis Wilker, em 29 de abril.

O QUE SE ESCONDE NESSE MANGUE?*

* um texto de muitos textos
“O que em mim sente está pensando”
Fernando Pessoa

Começo a achar que olhar para fora, mais que qualquer outra coisa, talvez seja olhar para si, para dentro. Lembro-me de um velho ditado que aprendi lá em Jataí, ainda criança, durante o sermão de um padre na missa: “quando você aponta um dedo para alguém, outros dedos de sua mão estão apontando pra você mesmo”.  Acho que, de alguma maneira, isso faz sentido. Lemos o “outro” como algo distante, fora, mas, na verdade todos os sentidos a “ele” atribuídos, as leituras distintas, partem de você.
Nesse processo, onde o olhar é protagonista,  tenho pensado muito sobre isso, a cada foto vinda de Recife, parece que revelamos a nós mesmos. As formas, cenários, cores e personagens de cada imagem abrem portas que acordam lembranças, sensações, desenham vazios, expectativas e sonhos. Quais as potências da experiência de olhar? “O que é ver? O que é o visível”?
Aristóteles perguntaria “a vista é o que nos faz adquirir mais conhecimentos, nos faz descobrir mais diferenças”?
“Por que o olhar ignora e é ignorado na experiência ambígua de imagens que não cessam de convidá-lo a ver”? (Adauto Novaes)
“O olhar deseja sempre mais do que lhe é dado a ver.” (idem)
 O sentir que se sente, o ver que se vê, não o pensamento de ver ou de sentir, mas visão, sentir, experiência muda de um sentido mudo...” (Merleau-Ponty)
A minha inquietação está relacionada a isso que está para além daquilo que é visto ou entre mim e o que estou vendo? Ou seria ainda sobre aquilo que sou capaz de ver a cada mirada nas imagens? Mas, o que vejo a cada vez que olho é passível de mudança, afinal eu mudo a cada minuto!
O que Recife e Brasília estão nos dizendo ou nós é que estamos dizendo por elas? Recorro ao Italo Calvino, no seu “As cidades invisíveis” para pensar um pouco essas viagens por imagens de uma cidade que não “possuímos ou habitamos”:
“Ao chegar a uma nova cidade, o viajante reencontra um passado que não lembrava existir: a surpresa daquilo que você deixou de ser ou deixou de possuir revela-se nos lugares estranhos, não nos conhecidos”
“O viajante reconhece o pouco que é seu descobrindo o muito que não teve e o que não terá.”
“cada pessoa tem em mente uma cidade feita exclusivamente de diferenças, uma cidade sem figuras e sem forma, preenchida pelas cidades particulares.”
“De uma cidade, não aproveitamos as suas sete ou setenta e sete maravilhas, mas a resposta que dá às nossas perguntas”
No final das contas, possivelmente não estamos falando de Brasília ou de Recife, falamos da cidade que carregamos em nós. Falamos dos simulacros presentes nas fotos?
“Simulacros são o invisível do visível, ou melhor, eles são a condição do ver: são “finas partículas da mesma forma e da mesma cor” que batem nos nossos olhos, apesar de a própria vista ser um contato” (Adauto Novaes).
Enfim, eu só queria compartilhar um pouco essas angústias sobre pensar o olhar, o que significa ver, percepção, relação com a cidade...aquilo que se revela a partir das fotos e que não necessariamente se mostram nas fotos...Pensando isso...me vem fragmentos de textos ditos na sala de ensaio:
“Quando eu era criança achava que cavalo marinho era do tamanho dos cavalos normais” (Lisbeth)
“Trabalho o dia inteiro pra vida de gente levar. Água vira sal lá na salina. Quem diminuiu água do mar?” (Canção do Sal, Milton Nascimento - música usada na cena do Alonso).
“Gente é meio como água, tá sempre correndo rumo à alguma coisa...” (narrativa do Francis para uma das fotos)
“Todo dia acordar...Eu queria saber exatamente pra quê que eu vim”! (Alonso)

Por enquanto é isso....
Francis Wilker