Por Nei Cirqueira
Sempre que começamos um novo processo de criação minha mente se enche de vontades. Vontade de fazer uma cena linda. Mas o que seria uma cena linda? Pra mim há diversas maneiras de se ter uma cena linda. Algo que me emociona, provoca, atravessa... No Concreto sempre temos debates quentes e que geram muitas vontades. Vontade de levar tanta coisa que aparece em nossas conversas para a cena... Vontade de misturar tudo e ressignificar por meio da linguagem artística. Parece que na cena tudo é mais vigoroso... mais bonito... possível de ser alterado para melhor. Parece que só na cena há saída. Ok, a gente pensa isso quando tá no início, porém quando começamos a levantar as cenas, todas as saídas que antes estavam abertas se fecham. Tudo fica tão difícil. O ator fica tão sem chão... a dramaturga, que na verdade é uma atriz, fica sem noção... o diretor tão sem condução...
Mas, e as imagens que foram enviadas? Não nos movimenta? Claro que sim! E muito! Então vamos a elas! Como se fosse o resgate do mito de origem... retornar às imagens para resgatar as vontades primeiras. E uma nova lufada de ânimo paira sobre todos. E aí começa um jogo de vai e vem... Vai lá atrás e resgata uma ação do ator que provocou a dramaturga que cria e recria uma cena inteira a partir da ação do ator. Mas o ator fica triste porque a sua ação motivadora não entrou pra cena e ele questiona como uma ação pode motivar a atriz/dramaturga e não fazer parte da cena? Mas temos que entender que o material gerado é inspirador de criações de outros artistas do grupo e não parte de um todo que será costurado pela dramaturga. Ela também é criadora! E como que o diretor vai compor com toda essa confusão? Ah, ele diz pra todos: “gente, deixa eu trabalhar”, “deixa eu criar”, “ai, Deus, o que fazer agora que meu tempo tá apertado?”
Aí, os atores aproveitam que o diretor viajou e deixou uma tarefa e piram mais ainda realizando tapetes de improvisação nos quais mais cenas e imagens poéticas são geradas a partir do mito de origem (as fotos). E eles, os atores acabaram por esquecer de seguir as orientações do diretor. Quando todos se reúnem novamente um novo novelo de linha precisa ser desembaraçado. O diretor, que quando fica nervoso ri, não consegue fazer outra coisa além de ri. E todos se desesperam porque o tempo tá cada vez menor. E nessa altura do processo já existem mais criações que provocam e movimentam todos os criadores. E pra deixar todo mundo louco de vez chegam mais três fotos (incríveis – meu Deus, o que é aquela foto do ônibus? E a da TV em cima de um banco velho na rua? Ai, e o menininho fantasiado no meio dos policiais?) para a criação de uma nova cena.... Nessas horas eu sempre me pergunto: “onde eu estava com a cabeça quando entrei nessa de fazer teatro de pesquisa?” Mas, minha consciência canceriana diz que tenho que respirar, dissimular e estimular para fecharmos a primeira cena... Foco! É disso que precisamos! Vamos focar, mergulhar nas novas criações para avançar com o trabalho. Mas como selecionar o que mais nos afeta? Eis a pergunta que nos sufoca e quase nos afoga nessas águas recifenses que teimam em nos provocar e nos tirar do lugar.....
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