domingo, 3 de abril de 2011

Sobre criar em grupo

                                                                                                                                       Por Nei Cirqueira
Sempre que começamos um novo processo de criação minha mente se enche de vontades. Vontade de fazer uma cena linda. Mas o que seria uma cena linda? Pra mim há diversas maneiras de se ter uma cena linda. Algo que me emociona, provoca, atravessa... No Concreto sempre temos debates quentes e que geram muitas vontades. Vontade de levar tanta coisa que aparece em nossas conversas para a cena... Vontade de misturar tudo e ressignificar por meio da linguagem artística. Parece que na cena tudo é mais vigoroso... mais bonito... possível de ser alterado para melhor. Parece que só na cena há saída. Ok, a gente pensa isso quando tá no início, porém quando começamos a levantar as cenas, todas as saídas que antes estavam abertas se fecham. Tudo fica tão difícil. O ator fica tão sem chão... a dramaturga, que na verdade é uma atriz, fica sem noção... o diretor tão sem condução...
Mas, e as imagens que foram enviadas? Não nos movimenta? Claro que sim! E muito! Então vamos a elas! Como se fosse o resgate do mito de origem... retornar às imagens para resgatar as vontades primeiras. E uma nova lufada de ânimo paira sobre todos. E aí começa um jogo de vai e vem... Vai lá atrás e resgata uma ação do ator que provocou a dramaturga que cria e recria uma cena inteira a partir da ação do ator. Mas o ator fica triste porque a sua ação motivadora não entrou pra cena e ele questiona como uma ação pode motivar a atriz/dramaturga e não fazer parte da cena? Mas temos que entender que o material gerado é inspirador de criações de outros artistas do grupo e não parte de um todo que será costurado pela dramaturga. Ela também é criadora! E como que o diretor vai compor com toda essa confusão? Ah, ele diz pra todos: “gente, deixa eu trabalhar”, “deixa eu criar”, “ai, Deus, o que fazer agora que meu tempo tá apertado?”
Aí, os atores aproveitam que o diretor viajou e deixou uma tarefa e piram mais ainda realizando tapetes de improvisação nos quais mais cenas e imagens poéticas são geradas a partir do mito de origem (as fotos). E eles, os atores acabaram por esquecer de seguir as orientações do diretor. Quando todos se reúnem novamente um novo novelo de linha precisa ser desembaraçado. O diretor, que quando fica nervoso ri, não consegue fazer outra coisa além de ri. E todos se desesperam porque o tempo tá cada vez menor. E nessa altura do processo já existem mais criações que provocam e movimentam todos os criadores. E pra deixar todo mundo louco de vez chegam mais três fotos (incríveis – meu Deus, o que é aquela foto do ônibus? E a da TV em cima de um banco velho na rua? Ai, e o menininho fantasiado no meio dos policiais?) para a criação de uma nova cena.... Nessas horas eu sempre me pergunto: “onde eu estava com a cabeça quando entrei nessa de fazer teatro de pesquisa?” Mas, minha consciência canceriana diz que tenho que respirar, dissimular e estimular para fecharmos a primeira cena... Foco! É disso que precisamos! Vamos focar, mergulhar nas novas criações para avançar com o trabalho. Mas como selecionar o que mais nos afeta? Eis a pergunta que nos sufoca e quase nos afoga nessas águas recifenses que teimam em nos provocar e nos tirar do lugar.....

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