sábado, 2 de abril de 2011

É como mostrar as tripas com tudo o que tem dentro

Gleide Firmino - Teatro do Concreto


Até onde seu fôlego aguenta?

Nesta quinta feira o Teatro do Concreto, fez sua primeira demonstração de trabalho. Apresentamos a 1° cena para duas turmas da faculdade de arte Dulcina de Moraes que foram até a sede do grupo naquela noite.
Estávamos com muito medo, muito mesmo. Primeiro por que todos já vão com aquele olhar: Oh! O Concreto. O que será que eles vão aprontar?
Segundo por que nunca tínhamos aberto um processo tão precocemente. Sempre fazíamos isso, mas, depois de trabalhar mais tempo, num passado bem remoto,quando não tínhamos um edital gritando na nossa orelha: OLHA O PRAZO!!! Enfim, por ser precoce, a criação desta cena nos trouxe uma crise. Foi praticamente um estupro criativo, um esgotamento, nos faltou fôlego em muitos momentos. A gente se cobrava o tempo todo para fechar uma cena bonita, pronta, com sentido, começo meio e fim, discutíamos a cena de novo, e de novo, e de novo. Como um grupo que está acostumado a ter no mínimo dois anos para a gestação de um espetáculo iria parir uma cena pronta em dois meses? Uma cena que nos encorajasse a abrir as portas da sala de ensaio. Com mais tempo para criar a gente até se desapegava, jogava material fora. Mas agora não dava. Tínhamos de mostrar nosso filho prematuro, mal formado  pelo pouco tempo que ficou na barriga. Será que vão achá-lo feio, pequeno, devemos mostrar nossas tripas com tudo que tem dentro? Sim. Por que não?  Lembro da Micheli (que fez a dramaturgia) dizer com os olhos rasos de água “Estamos mostrado o que tem dentro, fragilidades, crises, o nosso podre, e é difícil fazer isso.” Mas fizemos,e que bom que fizemos, foi uma troca maravilhosa. Muito mais bonita do que pensávamos, lembro de um aluno dizer “Nossa! Me identifiquei ,por que também sinto meu fôlego faltar às vezes também, que bom ver que não sou só eu que passo por dificuldades”. Se encontrar com o público, saber o que sentiram, Ver que não acharam nosso filho tão feio assim foi bom  nos trouxe oxigênio, novas questões e  novas receitas de vitamina para nosso Bebê. Valeu muito à pena.

Um comentário:

  1. Identificar-me... Com certeza, vocês mostraram o espetáculo da vida, o normal de vocês, do mais íntimo ao externo, nesse tipo de espetáculo todo ser vivente tem seu papel, suas perguntas, suas respostas e por mais belo, cômico, dramático ou festivo todos perdem o fôlego, alguns aguentam mais, outros menos, mas este oxigênio que nos mantêm intáctos, pode chegar ao fim, alguns possuem domíno próprio e se mantêm firmes, outros estão sempre precisando de uma respiração boca à boca para se sobreviver nessa atmosfera de realidade e fantasia.

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