quinta-feira, 12 de maio de 2011

DIÁRIO DE BORDO N. 8 - Grupo Magiluth


Listas telefônicas. Dicionários. Fotos pessoais. Janis Joplin. Tancredo Neves. Google. Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças. Cadastro de Pessoa Física. Panteão. Som & Fúria. Hamlet. Matias da Rocha. Joana Batista. Vassourinhas. José Pedro Lira. José Pedro Lira Filho. Hugo Leonardo.

Talvez por ter sido tão complicado significarmos o que as fotos da terceira janela de criação nos causaram, mais do que nas outras demonstrações, dessa vez precisávamos nos cercar de referências que nos ajudassem a refletir, a sentir, ou mesmo que falassem por nós quando não sabíamos como falar.
Tentávamos entender o que nos diziam aquelas fotos, quem eram aquelas pessoas para nós, mas as respostas não chegavam com coesão. A partir desses questionamentos, depois de algum esforço, unificamos as fotos em torno de um “tema”: anônimos. Não no sentido literal da palavra “de que não se conhece o nome”, mas ampliando seu significado buscamos, na lista telefônica, várias pessoas que nos deixaram de ser anônimas (sabíamos seus nomes e telefones), mas continuavam desconhecidas.
Nem sempre deixar de ser anônimo quer dizer ser alguém. Quem foi Tancredo Neves? E quantas pessoas já conhecemos e também já esquecemos?
Isso nos trouxe para o outro aspecto que pesquisamos nessa demonstração: o valor do registro. Quais coisas você de fato se lembra e quais apenas acha que se lembra por ter visto uma foto ou escutado uma história?
É realmente necessário nos preocuparmos em sermos lembrados quando não mais existirmos? Tais quais fantasmas de reis dinamarqueses ou nossos viadutos memoriais.
Recentemente li uma citação de Valdemar de Oliveira (pena não ter lido antes) que dizia assim:
Sombras e sombras, cada vez mais esgarçadas na distância. Em vindo outra geração, nem a bondade as salvará do esquecimento total. Vivem ainda um pouco porque vivem os que com elas viveram. Quando estes desaparecerem, cairão em sono profundo, abismadas, definitivamente, na eternidade.

Vários nomes se aglomeram nos livros escolares, nas enciclopédias, nos periódicos, nos obituários e, para seus antigos donos, isso não faz diferença alguma.
Quem tem o poder de determinar o que é importante recordar ou não?

Em sendo uma demanda de poder, não há como esquecer certa frase de certo príncipe em certo castelo na hora certa de sua morte: o resto é silêncio.
É silêncio e o medo dele.
Eu, num ato de bravura, recorro ao que pode mais:
 - Tem piedade, Senhor, e me abençoa, silencia minha memória com Alzheimer.
Talvez assim eu consiga esquecer o medo de ser esquecida.
Thaysa Zooby.

3 comentários:

  1. Nossa, Thaysa, foi muito bom ler seu texto! Além de ser uma escrita gostosa...foi tão próximo, simples e profundo. Consegui ver muitos passos interessantes na relfexão-criação da cena 3 ai em Recife. A busca de referências para poder encontrar formas de dizer, algo que dê forma ao que se sente, pq as vezes é difícil delinear mesmo o que sentimos, né? Acho que buscar referências também é interessante porque amplia o mundo, o meu, o seu, aumenta vocabulários....como quando a gente aprende uma palavra nova e quer exibí-la. Sobretudo fiquei aqui sentindo esse gosto do esquecimento, de pensar que cada vida é um universo de gritos e silêncios, de tanta luta, trabalho, ensaio, briga, amor, busca, desejo, decepção, alegria, garra, e, no fim de tudo...a gente é tão pequeno e nosso tamanho parece não alcançar muito alto o mundo e tudo por fim, é silêncio e pó. Ai me fica aquela pergunta: por que tanta aporrinhação nessa vida, se no fim seremos todos iguais? (que lembra a cena dos coveiros do Hamlet). Não sei...de fato o que fica? Começo a pensar que sou árvore, flor, terra...tudo está em mim e eu estou inevitavelmente em tudo, como matéria e energia. Não sei? Será? O que perdura nessa vida? Uma foto faz perdurar algo? Um objeto? Mas no final das contas quem atribui sentido a foto e ao objeto sou eu? No fundo acho que fica aquilo que ganha no mais dentro e fundo da gente algum sentido, algum valor que nos marca-transforma. Talvez. Enfim...fiquei mexido...
    "E de tudo fica um pouco.
    Oh abre os vidros de loção
    e abafa
    o insuportável mau cheiro da memória." (Carlos Drummond)
    "...Eu sou o que sempre quer partir,
    E fica sempre, fica sempre, fica sempre,
    Até à morte fica, mesmo que parta, fica, fica, fica..." (Álvaro de Campos - Fernando Pessoa)

    Francis

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Respondendo só pra te mandar um beijo, Francis! :*

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