terça-feira, 30 de agosto de 2011

Imagem número 6 Teatro do Concreto



Desvio para o Amarelo

Fragmentos coletados na sala de ensaio - Concreto - ExPerimenta metodologia do Magiluth

Segura aqui, eu vou parir.
 Vai parir o que?
Um girassol.

Semente não cresce em cimento não. Isso é só um ponto.
Eu queria tanto um abraço agora nesse momento.

A - Cantando: Arrasta a massa, Arrasta a massa
B –(olhando para cima) Vai  encher, vai encher!
A - De que?
B- De babaca aqui me olhando.

Tem dias que não tenho disposição para ver a alegria das pessoas.
Alguém consegue levantar a minha cabeça? Todo mundo tá na minha cabeça e meu pescoço não consegue agüentar. Porque o mundo tá na minha cabeça. Meu corpo é todo de borracha. Cabeça gira, mão treme.

Eu tenho mania de matar passarinho amarelo
Matar pintinho, quebrar o pescoço
Matar galinha, galinha amarela

O que me move são as minhas pernas
O que me move é a minha falta
Dinheiro me move
O descartável me move
O que me move são células morrendo
O que me move é saber é saber que eu tenho alguém pra ligar
O que me move é o que eu faço
Quando eu tinha 2 anos eu entrei no forno do fogão e a tampa fechou, eu quebrei as duas pernas. Eu sempre fui curioso, enfiei um ferro na tomada e me mijei todinho.

Você podia me dá um abraço
Me chama pra sua vida
Me chama pra você
Me dá um beijo
Me dá um fogo
Me leva  daqui

Eu tinha uma cachorra amarela. Amarela como caramelo. Uma vez ela estava toda mijada e peguei ela no colo assim mesmo.

Alguém pode me levar pra longe?
Alguém pode me levar pra beira de algum mar?
Alguém pode me dar um sorriso, sem expectativa?
Alguém pode me dar uma dança?

Céu, por favor, me dá um pouco de chuva!

O que me move é meu carro
O que me move é a coragem
O que me move são meus sonhos
Eu que me movo
O que me move é sempre a perspectiva

Eu confesso que adoro dançar

Por que nós bebemos água?
Por que meu cabelo cai?
Por que o céu é azul?
Por que não aparece ninguém do outro lado?
Por que a janela está aberta?
Será que eu consigo ver?

Eu estou sentindo uma vibração, uma luz. Por todo o meu corpo. Uma energia amarela.

Eu me arrependo dessa parte de mim que não obedece e que não conversa com a outra parte.
Eu me arrependo de ter recusado o convite. Quem é que convida alguém pra ir na casa no primeiro encontro?

Amarelo como o sol. Amarelo como os ipês, amarelo como a camisa do Jhony, amarelo como meu sorriso ta ficando com tanta besteira que eu falei.


segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Resposta do Caso N°4 - Magiluth


A primeira pergunta aponta-nos respostas diretas: a busca por relações profissionais. Nossa atividade artística permite tipos de relações muitas vezes não formais e presas ao modelo do mercado. Ou seja, temos a possibilidade de sobrevida que todo ser humano gostaria. Mas ações e escolhas nos exigem atitudes extremamente profissionais além de distanciamento passional para realizar as escolhas coerentes.

O prazer se adquire nas escolhas. Impossível realizar trajetória sem escolhas e definições que agradem ao senso comum do grupo. Ruim também criarmos engodos por situações e definições. A força matriz é o próprio grupo e portanto devemos realizar tudo para o coletivo não ser abalado. Sofremos sérios desgastes em nossa trajetória, o prazer é algo que sentimos a pouco tempo, fruto de busca por um pensamento coeso e único para a força matriz.

Resposta do Caso N°3 - Magiluth


Em nossa trajetória marcada por não aprovações em editais de incentivo, desenvolvemos a seguinte regra: O custo do meu grupo é diretamente limitado pelo quanto posso custear.

Difícil valorar funções ou tentar criar tabelas orçamentárias, pois poderíamos cair nas armadilhas das utopias. Quais profissionais estarão envolvidos, qual espaço administrarei, quantos somos? Perguntas que no máximo apontam um caminho de busca. Busca por valores que garantam profissionais qualificados, estrutura favorável, e dignidade de trabalho.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Encontro de lama e concreto




Por Nei Cirqueira



            Um aeroporto. Um vôo para Recife. Uma música para entrar no clima: Leão do Norte (Lenine). A expectativa do encontro. E teatro é encontro. Teatro de grupo: encontro de pessoas num coletivo. Encontro entre dois grupos. Encontro com um terceiro representante de um outro grupo: Lubi – Teatro XIX (SP). E assim vai nascendo uma interação presencial para quebrar a rotina das interações virtuais. E ao propor uma oficina onde poderíamos investigar a arquitetura do corpo do outro, Lubi proporciona a todos uma quebra de barreiras. Surge a percepção de que alguns procedimentos são semelhantes, entretanto, possuem nomenclaturas outras. Em outro momento experimentar o encontro com a rua. Antes, porém, é necessário trocar pequenos ‘presentes-provocações’ entre os dois grupos para estimular a relação de descoberta da cidade. Descoberta essa que se inicia através da descoberta do outro. Do outro indivíduo. Do outro coletivo. E na caminhada se deparar com cenários fotografados e enviados para a criação. Necessidade de descobrir um pouco mais daquele olhar guardado. Contudo é necessário seguir para poder esconder o ‘presente-provocação’ para que o outro encontre e nessa busca surgem novas relações-ações-performações com a cidade e suas pessoas que se intrigam com nossas investigações.

            E no meio disso, a ansiedade para ver como o olhar desse grupo se apropriou de nossos olhares guardados nas imagens enviadas.  E o anseio-receio de apresentar nossas criações que também surgiram dos guardados registrados pelos magiluths. Olhares brilhantes que se cruzam cheios de expectativas. E ainda outros olhares que se cruzam, constrangidos, quando algumas questões de organização e compromisso surgem nos dois grupos comprometendo o andamento das atividades. Espelhamentos, reconhecimentos, desafios semelhantes. Primeiras trocas de experiências sobre como administrar tais questões. Conversas que apontam o bom e o ruim das diferentes personalidades.

            E a curiosidade sobre o quê essas personalidades reunidas num coletivo criaram a partir de nossas imagens acaba gerando outro anseio: saber como chegaram naquele material cênico. E a resposta apresentada por meio de demonstrações práticas faz surgir no Concreto o desejo de experimentar a metodologia desses recifenses. Esse desejo segue com o Concreto, o Magiluth e o Lubi para Brasília.

            Novos debates, novas percepções, novas trocas sobre modos de criação e de gestão. Talvez com um pouco mais de intimidade. Diminuem-se os filtros. Aproximam-se histórias sobre o nascimento dos grupos. Para um, poucas experiências com editais. Para o outro, escassas apresentações em festivais Brasil afora. Entre os dois, começa ser possível perceber, timidamente, como as demonstrações de materiais cênicos se contaminam. Uma zona de contágio permeada pelas considerações das platéias de Recife e de Brasília. Novas inquietações que nos colocam em contato com desafios ainda não identificados ou pouco enfrentados: superar recorrências nas qualidades expressivas dos atores, nas cores e objetos presentes na direção de arte, no discurso que está sendo levantado.

            E no meio de tanta interação, a necessidade de, no último dia do encontro presencial, comer uma pizza para ajudar a digerir a quantidade de descobertas. Encontro que possibilitou olhar nos olhos e compartilhar guardados que só podem ser divididos diante da presença do outro.

Um olhar que guarda interrogações


Por Nei Cirqueira



        O fim de um processo geralmente surge imbuído de confusas sensações. Parece ser difícil dimensionar conquistas e frustrações, anseios e vazios. Olhar pra trás, rever os passos dados e começar a perceber momentos que poderiam ter sido diferentes. Perceber as situações em que o fôlego faltou, em que o suor respingou e manchou a roupa, molhou o chão. Encarar as dificuldades para se chegar a uma cena que motivasse e agradasse a todos. Mas o que me agrada nem sempre interessa o meu parceiro. Encontros e desencontros que fazem nascer inúmeras questões: Como desenvolver um jogo de motivação para a criação? Como despertar o meu olhar para a cidade? E como fazer o meu olhar guardar algo para você? Como perceber poesia na correria frenética que faz a cidade nascer todos os dias? Será que há o que se ver? Será que é possível se ver na cidade? Será que existe o desejo de nascer com a cidade? E esse vazio que insiste em me paralisar? Será que é fruto da arquitetura moderna de Brasília? Como aproximar uma cidade do centro-oeste de outra do nordeste por meio de imagens? O que será que eles quiseram dizer com essas 03 fotos? Como ela me afeta? O que eu quero dizer com essa coletânea de ações? Como vou ressignificar toda a poluição visual que me chamou atenção em uma foto que mostra o caos urbano em uma praça do centro de Recife? É mesmo possível ter tantas diferenças entre as pessoas de lá e as daqui? Será que devemos experimentar um rodízio entre as funções no modo de criação que adotamos: o processo colaborativo? Devo mesmo ocupar o lugar da direção sendo eu um ator? Mas se este projeto estimula a investigação de linguagem, por que não nos lançarmos no risco de ser um ator que ocupa o papel de diretor? Por que não ser um ator EXPERinvestigando o papel de dramaturgo? Mas, espera aí: quais são as funções desses papéis? Alguém pode me dizer como criar nesses papéis? “Gente, vocês perceberam que a metodologia está diferente em comparação com o processo dirigido pelo diretor ‘oficial’ do grupo? Estão se sentindo livres para criar?” E agora, como criar a partir do trabalho dos atores? E como usar o meu olhar sobre essas criações e gerar provocações para o dramaturgo que dias atrás estava respondendo pela direção da cena anterior? O que fazer com posturas que vejo nos atores e que estão me incomodando agora que estou no papel de diretor? Ih... então foi pra isso que assumi esse papel? Pra ver o que tenho que mudar no meu comportamento enquanto ator? E na função de dramaturgo? Nossa, é tão divertido assim mesmo? E essa vontade louca de contextualizar ações que a princípio se mostram tão fora de contexto? Ei, ator que está sendo dramaturgo na experimentação nº 03, viu como é importante registrar o que os atores e o novo diretor criaram? E então, já está afetado para criar o texto? Meu Deus, o que fazer com tantas ações? E esse sentimento de estar completamente ocupado pelas ações geradas a partir de 03 fotos que tanto me perturbam? Ué, e aquele vazio que você estava sentido? Como escrever uma dramaturgia na qual caibam tantas ações e sensações? É impressão ou aquele vazio cedeu lugar a inúmeras borboletas no estômago na hora de apresentar para o grupo a primeira proposta de texto? Como é possível fazer/experimentar tudo isso no meio de tantas outras demandas da vida de cada um de nós? Como não ser permissivo com o companheiro? Como não ser permissivo comigo mesmo? É só uma sensação ou, de fato, estamos empacados? Por que falar é fácil e fazer é tão complicado? Temos mesmo que parar a criação para discutir gestão? O que fazer com a dor dos problemas pessoais que estão abalando as estruturas do coletivo? Que sensação é essa de que estou esquecendo de algo? Não era para eu postar no blog as próximas fotos? Putz, onde eu estava com a cabeça? Não seria na organização dos pagamentos para os integrantes do grupo? Você viu que uma das atrizes está sem dinheiro para o ônibus? Não seria possível fazer dois pagamentos no mesmo mês? O que o grupo acha? Será que vai dar tempo de todos se posicionarem ainda dentro do mês? Fazer essa consulta não vai desviar nosso foco da criação? Quem ficou responsável por sistematizar a discussão do caso de gestão nº 2? Vocês podem esperar um momento para eu poder olhar nas minhas anotações? Caramba, como não vi a anotação de trazer uma música de baile para experimentar na cena que estou dirigindo? Pôxa, porque tenho que misturar tantas atividades? Por que isso? Pra quê aquilo? Por quê? Pra quê? ... ??? ....???? ..... ????? ...... ?????
E no meio de tantas indagações fica a sensação de que as imagens e experiências trocadas abriram portas que precisam ser adentradas. Portas que se abrem para que possamos nos rever, nos remexer, nos reconhecer, nos desafiar, nos desembaraçar... Portas que se abrem para desvelar o que nossos próprios olhares guardaram de nós mesmos.

o que fazer depois disso...?

o que fazer depois disso...?

“Pegar o barco andando”. Foi exatamente isso que eu fiz, ao embarcar no Itaú rumos cultural,  projeto Do Concreto ao mangue -  “aquilo que meu olhar guardou pra você”. Estava no processo de GREGORIO. Quando Giordano disse: VAMOS JOGAR? Fiquei preocupado em não conseguir jogo. Primeiro passo: ver as fotos do olhar de alguém sobre Brasília; Depois fluxograma.  Para, então, começar a “jogar”. Começo de uma loucura em minha cabeça . O que é criação coletiva? Que possição é a minha em relação ao grupo? E mais, o que ser um grupo? Achava que grupo era só reunir algumas pessoas e começar a criar “fazer peças”, recebi um tapa!
 Nesse processo (louco), de criar em cima de recortes de uma realidade, do ponto de vista de alguém que tirou uma fotografia. Muito doido. Mas, vamos “jogar" e ver onde chagamos. Discutir a cidade de Brasília? Recortar um pedaço do nosso recife para eles criarem? Descobri, ao longo do processo, que era muito mais... focamos no individuo no seu tempo/espaço? Discutimos o individuo que vive em Brasília? recife...? E que esta em todos os lugares. Focamos o ser humano em todos os seus aspectos e como ele lida com as circunstâncias que o envolvem no seu dia-a-dia.
Depois dos encontros presencias, aqui em recife e em Brasília, voltei cheio de duvidas. Duvidas sobre minha posição em relação ao grupo. Em relação ao meu trabalho quanto criador. E, imbuído do que é esse nosso fazer teatral?  Qual o limite entre o que vivemos e o que colocamos em vida na cena? Nas discussões e criações estéticas. Esse é o meu teatro?  Voltei sabendo que sem uma gestão concreta nenhum grupo se mantém. E o que fazer sabendo disso? O que eu posso fazer pra que isso aconteça de maneira presente e forte? É... o rumos Itaú me mostrou que: a nossa necessidade é de falar pra os presentes e se fazer presente.  era o começo da avalanche de questionamentos que ficam em mim, e no grupo, enquanto grupo. O que vai acontecer em são Paulo? Vejo que surgirão mais duvidas e questionamentos sobre o nosso “esta em grupo”.  O que pode ser mais uma motriz para movimentar o grupo em discussões.

Erivaldo oliveira